“Concentração de renda é um dos geradores da corrupção no Brasil”, diz promotor de Justiça

  • Por Jovem Pan
  • 02/10/2017 11h45
Johnny Drum/Jovem Pan

A mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha mostrou que 54% da população entrevistada são a favor da prisão do petista Luiz Inácio Lula da Silva e que 89% querem uma abertura de processo contra o presidente Michel Temer (PMDB). Para comentar esse e outros assuntos políticos dos últimos dias, estiveram na bancada do Morning Show o professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp Roberto Romano e o promotor de Justiça e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção Roberto Livianu. Durante a entrevista, este último abordou amplamente o tema da corrupção e alegou que uma de suas principais causas no país é a concentração de renda.

“A última avaliação da Transparência Internacional mostrou a excessiva concentração de renda como um dos problemas geradores da corrupção. O Brasil se notabiliza por isso. Temos um problema crônico de concentração de riqueza, temos uma cultura do privilégio enraizada. Isso envolve o tema do foro privilegiado também. Temos conseguido bons resultados em Curitiba com o juiz Sérgio Moro emitindo condenações corajosas, por exemplo. No entanto, ele não tem competência para condenar aqueles que tem o foro. Não há condições de avançar nessa discussão assim. Os políticos se escondem nesse escudo, isso faz parte de uma blindagem poderosa que está abrangida pela cultura dos privilégios. É um dos problemas graves do país”, disse Livianu.

Romano concordou com o colega e seguiu a linha de raciocínio relacionando a corrupção existente no mundo político com a corrupção presente no dia a dia da nossa sociedade. Para exemplificar, citou um atropelamento que sofreu recentemente. Ele contou que atravessava a rua em um bairro nobre da capital paulista quando foi jogado ao chão por uma senhora que dirigia um carro importado. Na ocasião, ela falava ao celular.

“Ela foi embora sem prestar socorro e atrás havia outro carro importado que começou a buzinar como se eu fosse uma vaca para sair do caminho dele. Aí chegamos a essas pessoas dizendo que são assassinas, como a ONU recomenda, e ficam furiosas. Afinal elas usam cinto de segurança, não aparecem na Lava-Jato”, afirmou. “Nós temos uma cultura eticamente pervertida. Esse é ponto que me parece preocupante. Temos uma ética automática que projeta defeitos no outro. Você não tem nenhum, só os outros. Faz quantos anos que o Brasil está nessa? Carlos Lacerda, Jânio, militares, Collor… Todos prometiam o que? Honestidade. Quando você joga no Moro ou no Joaquim Barbosa ou no Lula ou em qualquer outra pessoa a esperança de moralização, não funciona”.

Os dois convidados falaram ainda sobre os possíveis cenários que enxergam para as próximas eleições. Com a população mais preocupada com a pauta da corrupção, acreditam que pode haver uma grande renovação no nome dos deputados e senadores que ocuparão o Congresso Nacional – mas não veem o mesmo acontecer em relação à presidência, cargo mais complexo cuja escolha possui diversos outros componentes.

Romano concluiu sua participação na bancada declarando que, segundo seus estudos, o Brasil está tentando, mas por essas e outras ainda não vive uma democracia real.

“Estamos há 500 anos em regimes tirânicos. A definição de tirania é ‘aqueles que usam bens do governado como se fossem seus’. Então o Brasil é uma tirania, não é uma república, não é uma democracia. Nesse nosso sistema da tirania, temos o tirano que rouba e distribui socialmente o butim (nome dado ao produto de um roubo). É a famosa elite. Ela vive disso. Sem contar que temos aqui a formação de hábitos de compadrio, troca de favores, influência social. Esse sistema leva ao amortecimento da consciência social (…). Quando o governante não presta contas, o governado também não exige. Se não mudamos esse sistema, não mudamos nada. É por isso que tenho medo dos ‘salvadores da pátria’ que aparecem nas campanhas eleitorais”, finalizou.

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